Jornalismo científico brasileiro é uma vergonha

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Há bons jornalistas científicos brasileiros. Já concedi entrevistas a alguns. Mas a grande maioria, principalmente nas grandes empresas de mídia, é lamentável. Essa maioria não tem a menor noção do que escreve e acaba distorcendo as notícias para torná-las mais impactantes. Pensam que, como notícias de ciências não mudam o preço do dólar, qualquer besteira está perdoada.

Hoje topei com um exemplo no Estadão (para variar, os comentários dessa notícia estão desligados, então nem dá para tentar corrigir alguma coisa). Na notícia "Cientistas dizem ter encontrado partícula que se move mais rápido que a luz" , o jornal afirma que os dados do LHC nos últimos anos permitiram medir partículas com velocidade acima da velocidade da luz. Não trás nenhum detalhe sobre a medida, como ela é feita, quais a limitações do resultado. Além de ter um erro conceitual gravíssimo, quando compara tempo à velocidade. Além desse resultado não ser proveniente dos dados do LHC.

Por outro lado, vejam a mesma notícia na Science, intitulada "Neutrinos Travel Faster Than Light, According to One Experiment". No título, "... According to One Experiment.", já deixa claro a necessidade de confirmação independente, que ainda é muito cedo para tomar esse resultado como verdade. Nela, além de dar o crédito ao experimento correto, explica como o experimento é feito, como os dados são tomados e suas possíveis limitações. Além de dar a notícia, educa cientificamente o leitor, mostrando a complexidade que é chegar em um resultado desse tipo e a importância de olhá-lo com muito cuidado, senão corre-se o risco de se terminar como o Z'.

Divulgação mal feita é muito pior do que não divulgar. Vejam o exemplo da "terra não ser redonda", de alguns meses atrás. Quando será que a imprensa científica brasileira vai aprender isso?

Atualização: A Folha de S. Paulo publicou uma matéria com os mesmos erros que o Estadão. Vejam aqui.

Atualização II: Hoje (23/9), por volta de meio-dia, a Folha de S. Paulo atualizou a matéria, corrigindo vários erros e adicionando mais imformação. A do Estadão continua a mesma coisa.
Alexandre Thursday 22 September 2011 at 4:17 pm | | Default

six comments

Gustavo

Eu acabei de ser perguntado a respeito desta “descoberta” por uma amiga leiga, impressionada pelo viés impactante das matérias publicadas em alguns dos principais veículos de imprensa. Dado o alcance de jornais como Folha e Estadão, além de sites como UOL e Terra, seria exigir demais sugerir um projeto de lei que obrigasse que tais veículos fossem assessorados por especialistas? Ou o problema é a falta geral de senso crítico/educação por parte de muitas pessoas, tanto leigas quanto jornalistas?

Gustavo, - 23-09-’11 12:27
Luiz R Sassi

Agora que essa notícia estou até envergonhado de ter me contentado com a notícia vista nessa manhã, não confio plenamente nas teorias físicas acho muito possível que teorias como esta podem ser derrubadas a qualquer momento.
Mas isso não é desculpa para aceitar uma notícia veiculada por alguém que detém conhecimento limitado que não divulga a notícia de forma satisfatória.
Como o Alexandre acabou de comentar o problema (creio eu) é a falta de senso crítico (educação), por que só temos essas notícias horríveis devido o nosso alto grau de aceitação de tudo aquilo que nos é enviado.

Luiz R Sassi, - 23-09-’11 16:00
Alexandre

Acho que regulamentar imprensa é sempre complicado. Precisamos nos conscientizar que imprensa não é imparcial, livre de tendência. Note que os jornais, canais de TV, revistas, etc. são empresas privadas, com donos e empregados. O objetivo primário delas, assim como qualquer outra empresa, é ter lucro. É um negócio. Sabendo disso, paramos de ver a imprensa como detentora da verdade e imparcial. Ciência gera pouco lucro dentro da imprensa. Desse modo, para que investir nesse setor? Note como os cadernos (ou programas) de exporte são bem trabalhados, bem como os de amenidades. Por que será? Eles geram mais lucros.

Alexandre, - 23-09-’11 18:04
Anônimo

O que eu acho mais impactante é a gente ficar pensando no experimento dos outros.

Anônimo, - 23-09-’11 23:08
Matheus

Uma pergunta mais voltada sobre o assunto da possível descoberta… Os táquions que foram teorizados há algum tempo atrás podem ter alguma relação com isso?? Ou essas partículas (os táquions) são mais coisa de ficção do que de ciência mesmo??

Matheus, - 26-09-’11 23:38
Alexandre

Táquions são partículas hipotéticas que possuem velocidade maior que a da luz. Se a medida for confirmada pode ter alguma relação. Ainda é muito cedo para especular, ainda mais poruqe essas medidas estão sendo bastante questionadas.

Mas há também outras alternativas, como a possibilidade de, em um universo com mais de três dimensões espaciais, o neutrino ter pego um atalho por uma dimensão extra, tornando o caminho mais curto. Nesse caso, apesar de a sua velocidade ser menor que a da luz, o fato dele ter pego um atalho daria a impressão de que ele é mais rápido que a luz, por chegar antes ao experimento.

Ou seja, se a medida for confirmada, ainda há um enorme caminho a ser percorrido (hehe) para explicar esse observação.

Alexandre, - 27-09-’11 09:09
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