Quando a divulgação é mal feita o mundo acaba em 2012

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Fazer divulgação científica não é tarefa fácil. Fácil é a gente tentar fazer analogias incompletas, ou equivocadas, e criar falsas verdades. A divulgação da imagem abaixo pela mídia é um exemplo típico disso. Essa imagem foi publicada em praticamente todos jornais e sites de divulgação hoje.


Geóide terrestre anunciada hoje.


Essa imagem consiste na geóide terrestre obtida a partir do mapeamento do campo gravitacional do planeta, medido com elevada precisão pela Agência Espacial Européia, com base em dados do satélite GOCE. O link para o anúncio oficial está aqui.

Acontece que, como em muitos outros casos, a divulgação da notícia é feita de forma equivocada. Culpa em parte da imagem divulgada, que dá uma falsa sensação da verdade. Muitos sites e jornais dão a entender que essa é a forma do planeta. No fundo eles até tentam explicar o que, de fato, essa foto representa mas, no final, sempre sobra uma manchete do tipo: "Mapa 3D da gravidade mostra uma terra menos redonda", seguida da foto. Ou algo como: "Os cientistas agora detêm um dos mais exatos modelo geoide (protótipo mais aproximado do nosso planeta, visto que ele não é totalmente redondo) do lugar onde vivemos. ".

A Terra não é um maracujá velho. Parem com isso! Essa imagem apenas representa, em 3D, o campo gravitacional terrestre, mais intenso em uns pontos, menos em outros. Isso porque a densidade de matéria do planeta varia bastante, causando alterações no campo gravitacional.

Do ponto de vista de forma real do planeta, uma boa foto dele pode ser vista abaixo. Mas isso não convence muita gente.


Foto do planeta tirada pela Apolo 17.


Nas redes sociais preferidas atualmente, tem gente falando que a Terra parece redonda nessas fotos espaciais porque tem a água. Se tirar a água, a aparência do planeta é aquela apresentada hoje. Santa ignorância Batman! Isso é culpa da nossa educação, que não prepara as pessoas para pensarem de forma crítica e apenas as treina para acreditarem cegamente no que o professor fala. Por exemplo, o Everest tem altura aproximada de 9 km, e é o ponto mais alto do planeta. As fossas marianas, no Pacífico, constituem as maiores profundidades, com aproximadamente 11 km. Ou seja, a variação, entre mais alto e mais baixo é de apenas 20 km. Levando-se em conta que o raio médio da terra é de, mais ou menos, 6 mil km, temos uma variação devido à rugosidade do planeta de aproximadamente 20 km / 6000 km ~ 0.3%, parecida com uma casca de laranja. Você já viu uma laranja? Ela se parece com o maracujá velho da imagem acima?
Alexandre Thursday 31 March 2011 at 5:16 pm | | Default

two comments

André Vitorelli

Grande comentário, professor. Tivemos algumas discussões a esse respeito na comunidade de Astronomia no Orkut, graças à péssima divulgação. Creio que um grande fator na falta de qualidade seja que interessa mais ao jornal ter uma manchete que chame atenção – e nos tempos de hoje, cliques e visualização de propagandas pagam – do que algo que reflete o teor informativo.

André Vitorelli, - 04-04-’11 14:04
Prof. JC

Tem razão, mas a imagem do geóide não contribui nem um pouco para a interpretação das variações da gravidade sobre a superfície do planeta para o pessoal “que não é próximo à área de exatas”, o que representa a maioria das pessoas, inclusive a maioria dos jornalistas. Some-se a isso o fato de que os grandes meios de comunicação parecem não investir muito em ter uma equipe de consultores capaz de assessorar os jornalistas e, por fim, jornalistas em geral não frequêntaram muitas aulas de física na escola.
Muito pertinente a sua crítica.

Prof. JC, (URL) - 04-04-’11 14:10
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