Modelo de camadas - alguns potenciais
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O texto a seguir corresponde à anotações parciais de aula. Não é um texto em forma final, completo e totalmente revisado. Nesse caso, esse texto não tem como objetivo substituir livros sobre o assunto. Assim, esse texto deve ser entendido apenas como um guia de estudo para o aluno acompanhar a disciplina.
Vamos considerar alguns potenciais radiais simples para tentar obter o espectro de níveis de energia de um núcleo atômico. O potencial mais simples que podemos utilizar é o poço quadrado infinito. Esse poço é por demais simplificado. Podemos pensar, por exemplo, que o poço infinito não permite escape de nucleons do núcleo, impedindo, por exemplo, decaimento nuclear por partículas α. Na verdade, deveríamos começar com o poço retangular finito. Contudo, para

Seja então um poço infinito de largura radial

A equação para a parte radial da função de onda para esse potencial, no interior do poço, pode ser escrita como:

As soluções de (1) são proporcionais às funções de Bessel esféricas:

onde:

A quantização de energia, nesse caso, surge da aplicação das condições de contorno em




onde


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|
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3.142 | 6.283 | 9.425 | 12.566 |
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4.493 | 7.725 | 10.904 | 14.066 |
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5.763 | 9.095 | 12.323 | 15.515 |
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6.988 | 10.417 | 13.698 | 16.924 |
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8.183 | 11.705 | 15.040 | 18.301 |
Substituindo (3) em (4), chegamos, finalmente à:

A figura 1 mostra o esquema de níveis de energia obtidos com o poço quadrado infinito. Do lado esquerdo é mostrado o n-ésimo zero e momento angular correspondentes àquele nível. Do lado direito é mostrado o número de prótons (ou nêutrons) que poderiam ocupar esse nível, dado por



Os números mágicos podem ser calculados considerando, por exemplo, quando há duas camadas relativamente distantes se comparada às demais. Na figura 1 podemos dizer que isso ocorre entre as camadas 1-2, 2-3, 4-5, 5-6, 7-8, etc. resultando nos seguintes números mágicos:
- 2
- 2 + 6 = 8
- 8 + 10 + 2 = 20
- 20 + 14 = 34
- 34 + 6 + 18 = 58, etc.
Uma segunda opção para o potencial de interação, também simples e com resolução analítica, é o potencial de oscilador harmônico radial, ou seja, aquele no qual o potencial é dado por:

Assim, a equação radial torna-se:

A resolução de (7) não vem ao caso nesse momento. A componente radial dos autoestados para esse potencial possui uma forma complexa, composta de exponenciais decrescrentes (que limitam a penetração da função de onda para o interior da barreira de potencial) e polinômios de Laguerre, na forma:

Os autovalores, contudo, assumem uma forma simplificada, similar ao oscilador harmônico simples:

Sendo




Primeiramente, para simplificar, vamos fazer uma mudança de variável:

que, substituindo em (9), resulta em:











Para



Pode-se notar, também, que a degenerescência em energia não mistura estados de paridade diferente. Cada estado possui paridade bem definida. Na figura 2 podemos ver os níveis de energia de um oscilador harmônico radial. Nesse caso, os números mágicos, como não há nenhuma concentração evidente de níveis, são:
- 2
- 2 + 6 = 8
- 8 + 12 = 20
- 20 + 20 = 40
- 40 + 30 = 70, etc.
Uma forma intermediária é o potencial de Woods-Saxon (figura 3). Esse potencial é dado pela expressão:


Além de ser uma forma intermediária entre o poço quadrado e o oscilador harmônico, o potencial de Woods-Saxon representa também a distribuição de carga e massa nuclear, como vimos anteriormente. A troca de sinal se dá apenas por conta da força nuclear ser atrativa. Como a interação nucleon-nucleon é de curto alcance, esse potencial se torna bastante interessante na descrição da interação média entre os nucleons no núcleo. Contudo, encontrar os nívies de energia e auto-estados desse potencial não é uma tarefa simples. Normalmente utilizam-se procedimentos numéricos diversos para resolver esse potencial. A figura 4 mostra os níveis de energia obtidos com um potencial de Woods-Saxon, como o mostrado na figura 3.

Os números mágicos obtidos com esse potencial são:
- 2
- 2 + 6 = 8
- 8 + 10 + 2 = 20
- 20 + 14 + 6 = 40
- 40 + 18 = 58, etc.
Os valores na tabela 2 indicam claramente que os potenciais utilizados para descrever a interação média dos nucleons no núcleo não são capazes de reproduzir os números mágicos observados. Quase duas décadas depois, nos anos de 1940-1950 era claro que potenciais puramente centrais não eram capazes de reproduzir esses números mágicos. Uma mudança crucial ocorreu em 1949 com o surgimento de correções devido a interações spin-órbita. Veremos isso a seguir.
Exercícios
- As energias de ligação dos núcleos 15O, 16O e 17O são, respectivamente, 111.95 MeV, 127.62 MeV e 131.76 MeV. Deduza as energias do último estado ocupado e do primeiro estado não ocupado do 16O.
- Usando os potenciais discutidos aqui, preveja os valores possíveis de
dos estados fundamentais dos núcleos: 27Mg e 87Sr. Compare com os valores observados
e
Leitura recomendada
- Introductory Nuclear Physics, K. S. Krane, capítulo 5.
- Introduction to Nuclear and Particle Physics, A. Das e T. Ferbel, capítulo 3.
- Introdução à Física Nuclear, H. Schechter e C. A. Bertulani, capítulos 4.4.
- Nuclear and Prticle Physics, W. S. C. Williams, capítulo 8.
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