Um pouco mais de teoria de espalhamento: expansão em ondas parciais
Notas de aula são propriedade intelectual. Sendo assim, qualquer uso, no todo ou em parte, deve ter a origem referenciada apropriadamente, após autorização de seu autor.
O texto a seguir corresponde à anotações parciais de aula. Não é um texto em forma final, completo e totalmente revisado. Nesse caso, esse texto não tem como objetivo substituir livros sobre o assunto. Assim, esse texto deve ser entendido apenas como um guia de estudo para o aluno acompanhar a disciplina.
Em teoria de espalhamento vimos que podemos escrever que a função de onda de partículas sob a ação de um potencial é composta por um termo que corresponde à onda incidente e um termo que componente à onda espalhada, ou seja:

A função


Vamos inicialmente considerar a natureza do potencial de espalhamento. Muitos potenciais de interação possuem simetria esférica (dependem somente da distância entre o centro espalhador e a partícula). Nesse caso, do ponto de vista teórico, seria interessante explorar essa característica. Isso poderia ser feito se pudéssemos resolver o problema sobre o ponto de vista de espalhamento de ondas esféricas. Para isso precisamos reescrever (1) em termos de ondas esféricas. Partiremos de uma expansão em harmônicos esféricos de uma função qualquer:

Para cada termo da soma acima, a constante


onde




Como estamos interessados em obter seções de choque precisamos examinar o comportamento assintórico de (4). Como o único termo dependente do raio corresponde às funções de Bessel esféricas, vamos tomar o seu comportamento a distâncias muito grandes do centro espalhador. Nesse caso, pode-se mostrar que:

ou ainda, reescrevendo (5) em termos de exponenciais complexas:

Substituindo (6) em (4), podemos escrever que uma onda plana corresponde à soma de uma série de ondas esféricas com termos que se aproximam da origem e termos emergentes da origem, ou seja:

A descrição acima supõe que não haja potencial de interação. Contudo, devemos incluir o efeito resultante do potencial de interação. No caso da aproximação de Born, visto anteriormente, o problema de condições de contorno foi resolvido através de funções de Green e uma expansão na qual tomamos o termo de primeira ordem. Nesse caso, vamos supor que o potencial de interação é responsável por causar uma modificação na onda emergente da interação. A onda incidente não deve sofrer modificação. Essa modificação, definida como




Vamos tentar manipular (8) de modo a obter algo comparável a (1). Primeira-mente adicionamos e subtraimos uma onda plana emergente de (8). Assim:

É fácil ver que:

Em (10), o termo



Comparando (11) com (1) chegamos, finalmente, que a amplitude de espalhamento vale:

O conhecimento da matriz de espalhamento permite obter informações dobre o potencial de interação. Nesse caso, essa determinação é feita aplicando-se as condições de contorno no problema, que depende do potencial a ser considerado. Uma forma um pouco mais simples de interpretar a interação com o potencial é escrever a matriz de espalhamento em termos de phase shifts, ou mudanças de fase, que pode depender de cada onda parcial em (12).
No caso de espalhamento elástico, é fácil ver em (5), que o efeito do potencial sobre a função de onda deve ser apenas de introduzir uma fase no termo senoidal. Assim, o efeito do potencial é de transformar:

Escrevendo (13) em termos de exponenciais complexas e comparando com (10) é fácil ver que a matriz de espalhamento pode ser escrita em termos da diferença de fase causada pelo potencial, ou seja:

O fator 2 na exponencial em (14) aparece simplesmente pelo fato de, durante a manipulação algébrica, desejarmos manter a noção de que toda a informação de espalhamento está contida na onda emergente. O uso de defasagens torna a interpretação física do espalhamento mais simples. O número de onda






Substituindo (14) em (12) pode-se mostrar que:

com




O termo



Sabendo que:

temos que:

A expressão acima mostra que a seção de choque total de espalhamento depende das defasagens impostas às ondas parciais devido ao potencial de interação. No limite de baixas energias,




A seção de choque em (21) somente é finita em baixas energias se o termo senoidal tender a zero. Nesse caso, podemos simplificar (21) de modo à:

o termo



Exercícios
- Mostre que escrever a matriz de espalhamento como em (14) implica que só há espalhamento elástico, ou seja, os fluxos de partículas incidentes e emergentes com mesmo vetor de onda são iguais.
- Mostre (15) a partir de (12).
- Ache a seção de choque de espalhamento em baixas energias para um potencial
para
e
para
. Dica: calcule o deslocamento de fase aplicando as condições de contorno para a função de onda nesse potencial para
.
Leitura recomendada
- Introdução à Física Nuclear, H. Schechter e C. A. Bertulani, capítulos 9.2 e 9.3.
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