Recentemente houve um concurso em uma instituição federal. Não importa qual delas porque esse exemplo é mais comum do que possamos imaginar. Pois bem, esse concurso foi realizado em duas etapas, a primeira delas eliminatória. Para o candidato ser convocado à segunda etapa era necessário nota superior à sete e estar classificado entre as cinco maiores notas.
O tema da prova foi “Leis da Termodinâmica”. Foi uma prova dissertativa. O candidato classificado em sexto lugar obteve nota sete. O último convocado obteve nota sete vírgula dois. Uma lida simples no curriculum Lattes mostra que o sexto candidato possui muito mais experiência e vivência que os outros cinco. Coincidentemente, o candidato aprovado é local da instituição. Tomei conhecimento que fatos similares a esses ocorreram em outros concursos em vários lugares do país. Candidatos locais sendo aprovados em concursos após a eliminação de concorrentes mais experientes em uma prova de primeira fase. Não sou contra concursos em duas etapas e não estou contestando decisões de bancas. O que me surpreende é haver uma banca realmente capaz de separar candidatos em dois décimos de ponto em provas com temas tão subjetivos quanto o acima. Será possível? O que também me surpreende é que uma análise simples mostre que vários dos candidatos eliminados possuam currículos mais ricos que os aprovados, que são, em geral, locais das instituições. Em uma época na qual emprego para físico na academia não brota em pedra fico receoso das instituições de nível superior estarem utilizando critérios subjetivos como forma de proteger os seus alunos da competição daqueles formados em grandes centros. É importante que a nossa comunidade cobre dessas instituições que etapas eliminatórias de concursos possuam critérios claros, objetivos e, principalmente, divulgação ampla das provas e notas. Senão teremos que instruir nossos alunos a primeiro escolher onde quer ser contratado para depois escolher onde fazer pós-graduação e não o contrário.
Alexandre Suaide é Professor livre docente do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e desenvolve atividades de pesquisa na área de íons-pesados relativísticos nos experimentos STAR (RHIC), localizado no Brookhaven National Laboratory, EUA e Alice (LHC), no Cern.
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