Estou em greve?

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Hoje um aluno brincou comigo na sala de aula sobre o fato de eu não estar em greve. Em algum momento ele disse "... claro que o professor está em greve. É que ele está repondo as aulas antecipadamente..." (ou algo similar). Faz tempo que penso em escrever sobre isto e sempre surge algo diferente. Hoje resolvi escrever depois de visitar os sites do sintusp, adusp e fazer um google sobre as notícias da greve. Imediatamente me veio a frase de Goebbels, ministro das comunicações nazista: "Uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade absoluta.". Não há verdade mais apropriada, basta olhar estes diversos sites.

No site do sintusp, por exemplo, há um link para um blog interessante - contra a demissão do Brandão - nele pude ler a manifestação de várias pessoas, muitas docentes de universidades renomadas. Uma delas me chamou a atenção: Caio Toledo, Professor de Ciência Política da Unicamp escreve "...a foto na capa de hoje da FSP é expressiva: o estudante, com sua arma, um livro, é ameaçado pela insana repressão da PM. Por caso, lembra a professora dos "anos de chumbo" em plena ditadura militar?...". Pois é, um lado da pendenga se aproveita da necessidade voraz da mídia brasileira do "quanto pior, melhor" e tenta montar uma realidade não muito precisa. Mas se dita mil vezes...

Estive aqui na USP na terça-feira fatídica. O dia no IFUSP transcorreu normalmente, exceto o bandejão, fechado, o que torna almoçar na lanchonete algo a ser evitado. Por volta das 16:00 meu celular começa a tocar. Parentes e amigos preocupados com a minha segurança. Fui à lanchonete. Conversei com alunos e colegas que passaram por perto do ocorrido. Parece-me que livro é para fazer pose para fotos. O que se viu foi similar à torcida de um time de futebol, provocando "pacificamente" a polícia. É óbvio que a polícia brasileira não está preparada para lidar com multidões mas também é obvio que os manifestantes, pelo menos os líderes do movimento, faziam torcida para que algo ocorresse. Vai parar na mídia, existe propaganda melhor?

Mas, deixando isto de lado, deixe-me tentar responder à pergunta inicial: estou em greve? Segundo a wikipedia, greve é a "...cessação coletiva e voluntária do trabalho realizada por trabalhadores com o propósito de obter benefícios...". Destaco a palavra voluntária. Não adianta querer que a greve cresça por pressão. Se a comunidade acreditasse nas propostas em pauta, esta seria generalizada. Ao contrário, uma fração pequena, talvez maior entre os funcionários, aderiu ao movimento. Fui atrás da pauta de reivindicações. Parece até que estamos em 1969, ditadura militar, onde a polícia tinha missão de repressão política e ideológica. Já se foram 40 anos, mais da metade vividos em democracia. Já faz tempo que não seqüestramos embaixadores americanos e que a letra da música dizia "90 milhões em ação". O contexto mundial mudou. E tem o Brandão. Não o conheço mas, se for perto de como as pessoas o descrevem, espero não conhecer. Se for o que dizem, em um país sério ele não estaria apenas demitido. A polícia entrou no campus para manter os direitos daqueles que gostariam de trabalhar ou protestar pacificamente. Fez trabalho mau feito e devemos cobrá-la por isso. A pauta é essencialmente política. Oposicionista. O fórum para debate político é outro. Política só se faz à força em ditaduras. No estado democrático, se faz com a palavra, convencimento. Nesta pauta eu não acredito, assim como grande parte da comunidade da USP. Se a pauta fosse mais atraente, moderna, realista, talvez eu estivesse em greve. Mas não estou.
Alexandre Wednesday 17 June 2009 at 8:59 pm | | Default

four comments

André

As formas de protesto mais inteligentes vertem das palavras e não de atos movidos aos solavancos pelo ímpeto. Não podemos nos enganar, entretanto, que qualquer tipo de manifestação física é inválida. Não. Greves, por assim dizer, são válidas, mas devem ser feitas com parcimônia, de modo que não as banalizem, deixando de lado todos os ideais plantados por aqueles que as começaram!
Acredito em greves. Em causas fundadas, embasadas em valores não moralistas, modernos, práticos, reais! Acredito também que os estudantes da USP já participaram de várias dessas paralizações e, de fato, mudaram alguma coisa no modo em que a Universidade – e quiçá o país – é regida. E por essas crenças que sinto, de todo meu coração, pelo que vou dizer agora: com essa última paralização, a intituição da greve foi banalizada de modo quase irrecuperável. Foi feita pelo ímpeto.
Posso dizer, então e sem dúvida alguma, que demorarei a crer em qualquer outra paralização USPiana.

André, (URL) - 18-06-’09 10:43
Pedro Simacek

A greve diz ter embasamento nas grandes leis de Marx, os próprios orgãos envolvidos nisso clamam e ensinam os ditos livros e ensinamentos em assembléias e reuniões.
São frases lidas e pouco compreendidas, repletas de incorretos compreendimentos. E não são poucos esses. Quem déra Marx ouvir sobre “verdadeiros” comunistas usando de seus livros em busca de dinheiro.

Tal explainação foi feita para mostrar o meu pensamento sobre a falsidade ideológica desse movimento. A greve tem prevista sua legalidade na lei desde que não confronte os direitos do demais. Ouvi por longo, um aluno de letras dizer “A greve tem o direito de barrar o seu direito de ir e vir”.

Acho que ele devia ler algo mais útil.

E isso é algo que me intriga, digo como aluno. Por que nos metermos onde não vamos ganhar nada? A passeata pela av. Paulista feita pelos alunos tinha o intuito de críticar os andamentos da UNIVESP, e por fim, o SINTUSP estava lá com o “Trio Caribão” e seus ensinamentos “marxistas”.

A explicação veio de quem me trouxe ao mundo, “Tua juventude carece do que lutar contra”. Minha mãe passou pela ditadura, enfrentou governos por seus direitos de professoras e funcionária pública, viu os cavalos de Maluf pisotear seus amigos, estava nas Diretas Já.

E concordo com quem tenha tal experiência no assunto.

Mas não concordo com o que os alunos ditos melhores do Brasil resolveram apoiar.

Pedro Simacek, (Email ) (URL) - 19-06-’09 14:08
Caio Laganá

Bem colocado, Professor.

Na era da informação, da internet e da globalização, será que devemos continuar repetindo as mesmas (e obsoletas) ferramentas de nossos antepassados? Gandhi não libertou a India através da greve.

Acho que falta um pouco de criatividade.

Caio Laganá, (Email ) (URL) - 19-06-’09 20:27
Rodrigo

Seria de interesse o debate sobre as pautas além de sua viabilidade. Foi o que presenciei entre alguns professores funcionários e alunos do IF em reuniões marcadas (que contaram com a presença da Mazé !!!).

Antes que o professor tome partido publicamente, seria interessante que trouxesse a discussão dos fatos ocorridos com os alunos, pois se há radicais tentando “destruir” a universidade (extrema direita e extrema esquerda), isso sim é de nossa conta.

“Uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade absoluta.”. Não tomando partido, mas vale lembrar que a parte massiva da imprensa martela nosso tímpano com palavras de modo a repudiarmos qualquer ato fora da “monotoneidade” de nossas vidinhas de formigas pacatas.

O debate deve ser amplo.

Rodrigo, (Email ) - 10-07-’09 03:38
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